A importância do cônjuge na recuperação do adicto

06/04/2025

A importância do cônjuge na recuperação do adicto

Por Raique Almeida

            A codependência é uma condição frequentemente observada em familiares de pessoas com dependência química, especialmente em cônjuges. Muitas vezes, as esposas e maridos, movidos pelo amor e pela tentativa de salvar o outro, assumem papéis de "salvadores", acreditando que podem resgatar o parceiro através do afeto. Contudo, isso pode ser um grande erro. Quando se coloca toda a responsabilidade do outro nas próprias costas, o codependente perde sua própria identidade, negligencia sua vida e acaba criando um ciclo de sofrimento, sem realmente ajudar o parceiro a se recuperar.

É essencial entender que a dependência química é uma doença, e o amor por si só não é suficiente para curar o adicto. A recuperação depende de apoio especializado e da conscientização dos envolvidos sobre seus próprios limites e necessidades. A família, como um sistema, precisa aprender a se cuidar para poder ajudar. O grupo de apoio, como o Amor-Exigente, tem um papel crucial nesse processo. Ele proporciona aos familiares a oportunidade de entender a doença e aprender a se desvincular emocionalmente das escolhas destrutivas do dependente, sem abandonar o vínculo.

No depoimento de Cassiano e sua esposa, Cecília, vemos um exemplo claro desse processo. Cassiano, que lutou contra o vício em cocaína, só conseguiu alcançar a sobriedade com o apoio de sua esposa e de sua mãe, Dona Rita. A história deles é um reflexo de como o amor, quando aliado a uma compreensão saudável da doença, pode ajudar no processo de recuperação, mas apenas quando a família reconhece o seu próprio sofrimento e busca ajuda.

No contexto da codependência, muitas vezes os familiares deixam de viver suas próprias vidas para se focar completamente no dependente. Isso leva a uma perda de identidade e autoestima, criando um ciclo de sofrimento onde as necessidades do codependente são constantemente priorizadas. No entanto, ao participar dos grupos de apoio, como o Amor-Exigente, os familiares começam a perceber que não podem salvar o outro sem cuidar de si mesmos primeiro.

Nos grupos, os familiares aprendem a estabelecer limites saudáveis, um passo fundamental para evitar a facilitação do vício. Por exemplo, uma esposa que descobre que seu marido está usando drogas deve aprender a não interferir nas consequências naturais de suas ações, como perder o emprego, pois, ao assumir a responsabilidade por essas consequências, ela acaba mantendo o vício. Esse processo de aprender a dizer "não", a criar limites, é uma parte crucial da recuperação tanto para o dependente quanto para os familiares.

Além disso, a recuperação da codependência não é uma tarefa rápida ou fácil. Requer mudanças no comportamento e no modo de pensar, e é por isso que a frequência nas reuniões e a persistência no processo de cura são fundamentais. Como mencionado no depoimento de Cassiano, o apoio contínuo da esposa e da mãe foi fundamental para sua recuperação. O amor exigente não é um amor sem limites, mas um amor que respeita os limites de cada um e que busca a saúde de todos os envolvidos.

O sistema familiar de uma pessoa com dependência química é profundamente afetado pela codependência. Quando um membro da família assume o papel de "salvador", ele se coloca em uma posição de controle, tentando corrigir as falhas do outro, mas sem perceber que isso só agrava a situação. A esposa de um dependente, por exemplo, pode sentir-se obrigada a tomar decisões por ele, como mentir para proteger suas ações ou cobrir as consequências de seus erros. No entanto, essa "ajuda" impede o dependente de enfrentar as consequências de seus atos, o que perpetua o ciclo de vício.

A codependência também pode criar uma dinâmica de relações distorcidas dentro da família, onde os papéis se invertem. Em vez de ser um apoio emocional saudável, o familiar acaba tomando o controle de tudo, sacrificando suas próprias necessidades em nome do outro. Isso pode resultar em um esgotamento emocional e físico significativo, afetando a qualidade de vida de todos os membros da família.

A mudança começa quando os familiares reconhecem que, ao cuidarem de si mesmos e estabelecerem limites, podem ajudar o dependente de uma forma mais saudável. Isso envolve aceitar que a recuperação é um processo que não depende exclusivamente da vontade ou do amor do familiar, mas do tratamento adequado e do comprometimento do adicto.

A codependência é uma parte complexa e dolorosa do ciclo de vício, afetando profundamente os familiares, principalmente os cônjuges. A participação em grupos de apoio, como o Amor-Exigente, oferece uma oportunidade para os familiares entenderem a doença, estabelecerem limites saudáveis e aprenderem a cuidar de si mesmos. O processo de recuperação não envolve apenas o dependente, mas todo o sistema familiar, que precisa estar disposto a mudar e a buscar a saúde emocional para oferecer o suporte adequado. Apenas assim, todos podem, eventualmente, celebrar uma vida renovada e equilibrada.

Referências:

Beattie, M. (1992). Codependência: Como Romper o Ciclo e Recuperar Sua Vida. Editora Gente.

Gonçalves, M. F. (2009). Codependência: O Custo de Amar em Demasia. Editora Cultrix

Melody Beattie (2008). Codependência Nunca Mais (versão traduzida). Editora Gente.

Relato de Cassiano e Cecília. História de Recuperação e Superação Familiar. Entrevista

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