Adolescentes, Rua, Drogas e Substâncias Psicoativas: Um Estudo sobre Risco e Proteção
27/04/2025

Por Juliana Prates Santana, Marcela Raffaelli, Lucas Vezedek e Silvia Helena Koller
O artigo apresenta uma análise profunda sobre o consumo de drogas entre crianças e adolescentes em situação de rua, explorando fatores de risco e proteção. A pesquisa foi conduzida em três capitais brasileiras Salvador, Fortaleza e Porto Alegre entre os anos de 2012 e 2014, e envolveu 108 participantes com idades entre 9 e 18 anos. O perfil dos jovens era composto majoritariamente por meninos (82,4%) e, em sua maioria, pessoas não brancas (91,6%).
Os adolescentes foram classificados conforme o principal motivo que os levou às ruas, sendo identificadas categorias como o uso de drogas, conflitos com cuidadores, fugas do ambiente familiar, necessidade de trabalho e busca por liberdade. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas estruturadas, abrangendo questões sobre a história de vida, relações familiares, experiências na rua, escolaridade, trabalho e passagens por instituições de acolhimento. Um diferencial importante da pesquisa foi a adoção da inserção ecológica, estratégia que possibilitou a construção de vínculos mais próximos e genuínos entre pesquisadores e participantes, garantindo maior validade e sensibilidade às dinâmicas reais vivenciadas pelos adolescentes.
Os resultados revelaram que o álcool e o tabaco são as substâncias mais consumidas entre os adolescentes em situação de rua, seguidos pela maconha e por inalantes, como solventes. O uso dessas drogas é apresentado não apenas como uma prática de consumo, mas como uma resposta complexa a uma série de vulnerabilidades sociais, incluindo a violência doméstica, o rompimento de vínculos afetivos, a negligência familiar e a ineficácia das redes de proteção social. Em muitos casos, o uso de substâncias é descrito pelos próprios adolescentes como uma estratégia de enfrentamento da dor, da solidão e das dificuldades do cotidiano nas ruas.
O estudo também traz a análise de casos específicos que ilustram o impacto das falhas nos serviços de assistência social, mostrando como a ausência de suporte adequado pode levar à reincidência no uso de drogas e à permanência nas ruas. Um dos casos descritos evidencia como a falta de acolhimento e de intervenções personalizadas pode agravar o quadro de exclusão e dificultar qualquer tentativa de reintegração social.
Os autores reforçam que compreender o fenômeno do uso de drogas por adolescentes em situação de rua exige uma abordagem que vá além da criminalização ou da patologização desses jovens. É fundamental considerar a complexidade das trajetórias de vida marcadas por rupturas, perdas e violências. Assim, políticas públicas voltadas a essa população precisam integrar ações que promovam a proteção integral, respeitando os direitos humanos e oferecendo alternativas concretas de educação, saúde, moradia e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.
Finalmente, o estudo conclui que a superação dos riscos associados ao uso de drogas entre adolescentes em situação de rua passa pela construção de estratégias de intervenção que sejam acolhedoras, intersetoriais e sensíveis às realidades locais. Deve-se abandonar práticas punitivas e adotar uma lógica de cuidado e de fortalecimento dos fatores de proteção, considerando sempre os contextos sociais, econômicos e políticos que moldam essas trajetórias. A pesquisa traz, assim, uma importante contribuição para o debate sobre infância, adolescência e políticas públicas no Brasil, ressaltando a urgência de ações que promovam verdadeiramente a inclusão e o desenvolvimento saudável dos jovens mais vulneráveis.