O surgimento da Cracolândia como problema público: O desenvolvimento do mercado lucrativo do crack

07/04/2025

O surgimento da Cracolândia como problema público: O desenvolvimento do mercado lucrativo do crack

Por Ygor Diego Delgado Alves, Pedro Paulo Gomes Pereira

            A Cracolândia, localizada na região central de São Paulo, tem sido objeto de intensas e reiteradas intervenções governamentais desde a década de 1990, com o objetivo de combater o consumo de crack e reverter a estigmatização do território. Inicialmente, as tentativas de expulsar os usuários de crack da área, com abordagens violentas e sem planejamento, acabaram por apenas deslocar a cena de uso, criando um espaço híbrido e de convivência entre usuários de drogas e outras populações vulneráveis. As intervenções, predominantemente focadas na repressão policial, não produziram resultados duradouros, mas geraram uma série de disputas territoriais e políticas sobre o destino da região.

O artigo explora como, ao longo de duas décadas, essas ações falharam em transformar significativamente a Cracolândia e como as políticas públicas, embora amplamente reprovadas, se prolongaram sem grandes correções de rumo. A violência das operações, como a "Operação Sufoco" de 2012, foi um marco dessa disputa, revelando um aparato de controle social que, paradoxalmente, intensificou as tensões entre diferentes esferas do governo e a sociedade civil.

A Cracolândia, caracterizada por uma diversidade de usuários e uma circulação intensa de pessoas, não se limitava apenas ao consumo de crack. O espaço foi, durante anos, o centro de disputas políticas e sociais, sendo continuamente marcado pela estigmatização e pela resistência dos moradores de rua que buscavam sobreviver nas condições extremas da região. A política de "tolerância zero" adotada pelo governo estadual de Mário Covas (PSDB) nos anos 1990 visava erradicar a Cracolândia por meio de repressão policial, mas resultou em um simples redesenho dos limites do consumo e do tráfico de drogas, sem resolver os problemas estruturais da área.

Ao longo do tempo, surgiram diferentes abordagens, incluindo o trabalho de instituições sociais, muitas ligadas a igrejas evangélicas, que buscavam atender a população vulnerável. Em 2014, o programa "De Braços Abertos", iniciado pelo prefeito Fernando Haddad (PT), trouxe uma nova proposta de reabilitação, com trabalho, acolhimento e moradia, tentando lidar com o sofrimento social dos moradores da Cracolândia de maneira mais integrada e menos violenta. No entanto, a persistente violência policial e a falta de políticas públicas eficazes garantiram que a região continuasse sendo marcada pela exclusão social.

A narrativa sobre a Cracolândia revela um ciclo de políticas públicas inconsistentes e medidas punitivas, que não conseguiram tratar as questões sociais de fundo, como a falta de moradia e a marginalização das pessoas que ali habitavam. O uso de crack tornou-se um sintoma de um problema mais amplo de desigualdade e falha do Estado em promover políticas públicas que realmente alterassem a realidade da população de rua e dos dependentes químicos.

O artigo também analisa como as intervenções e políticas urbanísticas, como o projeto "Nova Luz", intensificaram a dicotomia entre o novo e o velho, ao tentar revitalizar a área por meio de demolições e gentrificação. Essas ações, em grande parte, focaram em transformar a área em um centro de valorização imobiliária, sem considerar efetivamente as necessidades dos habitantes da Cracolândia.

Por fim, o artigo propõe uma reflexão crítica sobre como o poder público, em vez de erradicar a Cracolândia, consolidou um ciclo de ações punitivas que apenas reforçaram a marginalização e a violência. As soluções propostas, como o "De Braços Abertos", demonstram um movimento em direção a políticas mais humanizadas, mas ainda é um longo caminho para entender e tratar de maneira eficaz a complexidade do fenômeno da Cracolândia.

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