Solventes de cola: abuso e efeitos nocivos à saúde
10/04/2025

Por Maria de Fátima Menezes Pedrozo, Maria Elisa Pereira Bastos de Siqueira
O uso prolongado de colas e outros solventes por adolescentes tem gerado um consenso crescente entre os autores sobre o desenvolvimento de tolerância e dependência psíquica. De acordo com estudos, a frequência de exposição aos solventes influencia diretamente o surgimento da tolerância. Watson (1977) sugere que, com inalações semanais, a tolerância pode ser observada já após três semanas de uso contínuo. No que se refere à dependência psíquica, ela parece estar mais relacionada à intensidade da exposição do que ao tipo de solvente utilizado. A interrupção do uso frequentemente resulta em sintomas como ansiedade e depressão, levando o indivíduo a retornar ao consumo dos solventes, muitas vezes sozinho e não mais em grupo. No entanto, a dependência física ou neuroadaptação ainda não foi comprovada, embora alguns sintomas, como calafrios, cefaleia e alucinações, sejam observados na interrupção abrupta do uso, o que remete à síndrome de abstinência.
Em relação ao tratamento do abuso de solventes, a abordagem terapêutica mais comum inclui psicoterapia em grupo ou individual, associada a terapias ocupacionais e comportamentais. Essas técnicas visam alterar a estrutura familiar, promovendo maior cooperação entre os membros e proporcionando um ambiente mais saudável para o adolescente. Embora a interrupção do uso de solventes seja bem tolerada por alguns indivíduos, um tratamento mais eficaz envolve o engajamento de familiares e profissionais para modificar o meio em que o jovem vive. Contudo, as dificuldades associadas ao abuso de solventes, como a grande variedade de substâncias e a ampliação de seu uso industrial e doméstico, tornam a regulamentação e a legislação uma solução limitada. Nos Estados Unidos, por exemplo, algumas cidades tentaram restringir a venda de colas a menores, mas essa medida apenas incentivou os adolescentes a buscar formas alternativas de aquisição, como pedir a adultos para comprar ou até furtar os produtos.
Uma estratégia discutida para reduzir o abuso de solventes é a adição de substâncias de odor desagradável, como óleo de mostarda, que causam náuseas quando inaladas, desencorajando o uso. No entanto, a abordagem mais adequada parece ser a implantação de programas educacionais nas escolas, que alertem os adolescentes sobre os riscos desse comportamento. Existe, no entanto, o receio de que a divulgação dessas informações possa despertar a curiosidade de jovens ainda não usuários. Assim, alguns defendem que os pais devem ser os principais responsáveis por essa conscientização, embora isso seja complicado em famílias desajustadas, onde não há ambiente adequado para tratar esses assuntos.
Diante disso, os programas de prevenção precisam se concentrar não apenas na educação sobre os riscos dos solventes, mas também em melhorias nas condições socioeconômicas das classes mais vulneráveis. É fundamental que governo, pais e educadores trabalhem juntos para criar uma rede de apoio e um ambiente saudável, já que a abordagem individual de cada um deles, sem a colaboração entre os envolvidos, tende a ser menos eficaz. A prevenção e o tratamento do abuso de solventes devem, portanto, ser abordados de maneira holística, considerando as condições sociais, econômicas e familiares que afetam os adolescentes.