Terapia Cognitivo-Comportamental no Tratamento da Dependência Química
09/04/2025

Por Raique Almeida
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) atua de forma eficaz no tratamento da dependência química, abordando tanto os aspectos psicológicos quanto comportamentais do indivíduo. Esse tipo de terapia se baseia na ideia de que as crenças e pensamentos automáticos influenciam diretamente os comportamentos, especialmente em situações de dependência de substâncias.
O modelo cognitivo utilizado na TCC para dependência química segue um padrão de estímulos e reações que envolvem crenças, pensamentos e comportamentos. Por exemplo, quando uma pessoa é exposta a um gatilho, como uma situação de estresse ou uma lembrança relacionada ao uso de substâncias, ela ativa crenças básicas sobre a droga. Essas crenças podem ser, por exemplo, a ideia de que a droga traz alívio ou prazer, ou que é uma solução para enfrentar dificuldades.
Essas crenças geram pensamentos automáticos que reforçam a necessidade de usar a substância. Esses pensamentos incluem: "Vai me ajudar", "Sempre me faz bem", "É uma forma de escapar da realidade", entre outros. Esses pensamentos geram uma fissura ou necessidade de consumo, que pode levar à recaída se não forem trabalhados adequadamente.
Além disso, a pessoa pode começar a justificar o uso da substância, pensando em termos permissivos, como "Só hoje", "Só por um pouco", ou "Vou parar amanhã". Esse tipo de raciocínio facilita a continuidade do uso, já que a pessoa se permite agir sem sentir culpa ou vergonha naquele momento.
O processo de recaída ocorre quando a pessoa usa a substância novamente, o que ativa o ciclo de estímulos, crenças e pensamentos automáticos. A abstinência também pode gerar sintomas físicos e psicológicos, como desconforto e insatisfação, o que reforça ainda mais o desejo de usar a substância.
A TCC trabalha nesse ciclo ao ajudar o paciente a identificar e questionar esses pensamentos e crenças automáticas. Por exemplo, se o pensamento é "Eu mereço", a terapia ajudará o indivíduo a perceber que isso pode ser um exagero e que, ao ceder a esse desejo, ele pode estar se prejudicando a longo prazo. A terapia também ensina estratégias para evitar situações de risco, como não passar por lugares onde o uso da substância é incentivado, e planejar alternativas de comportamento.
O objetivo é fazer com que o paciente desenvolva novos padrões de pensamento e comportamentos, reforçando a ideia de que é possível viver sem a substância e que as dificuldades podem ser enfrentadas de outras formas, mais saudáveis. O foco está no trabalho contínuo com os pensamentos, as crenças e as estratégias de enfrentamento, com o objetivo de minimizar as recaídas e promover a recuperação.
Em resumo, a TCC para dependência química foca na identificação e modificação de pensamentos e crenças que facilitam o uso da substância, ao mesmo tempo em que trabalha comportamentos alternativos para lidar com as situações de risco. Esse tratamento é adaptado às necessidades específicas de cada indivíduo, levando em conta fatores como a substância de dependência, o contexto social e as características pessoais de cada paciente.
Referências:
Beck, A. T., & Wright, F. D. (2018). Terapia Cognitiva para Dependência de Substâncias. Editora Artmed.
Marlatt, G. A., & Donovan, D. M. (2007). Prevenção de Recaídas: Estratégias de Manutenção no Tratamento de Comportamentos Adictivos. Editora Artmed.
Kadden, R. M., & Litt, M. D. (2004). Tratamento da Dependência de Álcool: Uma Abordagem Cognitivo-Comportamental. Editora Artmed
Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). (2019). Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-5). Artmed.