Transtorno Psicótico Provocado por Substâncias ou Medicamentos

Por Raique Almeida  

       Quando uma pessoa vivencia o transtorno psicótico induzido, sua capacidade de julgar a realidade fica severamente prejudicada devido ao efeito de algumas drogas ou remédios. A pessoa apresenta pelo menos um dos dois sintomas: delírios ou alucinações, mas, resumidamente, uma alucinação é uma percepção sem um estímulo externo correspondente, e um delírio envolve convicções falsas, muitas vezes muito resistentes a evidências contrárias, que são inusitadas dentro da cultura da pessoa.

Algumas das substâncias e medicamentos mais comumente associados a esses sintomas são o álcool, a maconha, a cocaína, as anfetaminas, os alucinógenos, e os medicamentos sedativos, ansiolíticos e hipnóticos. Alguém pode experimentar os sintomas do transtorno logo após consumir essas substâncias, enquanto ainda estiver sob o efeito delas ou até mesmo depois, como parte de um sintoma de abstinência. Embora o transtorno tenha início associado ao consumo ou exposição à substância, ele pode durar algumas semanas, mesmo que a pessoa não a consuma novamente durante esse período.

Caso a pessoa continue consumindo a substância, os sintomas podem persistir por mais tempo. Na maioria dos casos, as manifestações do transtorno tendem a desaparecer dentro de alguns dias após a interrupção do consumo da substância. Se a pessoa continuar a exibir sintomas psicóticos por cerca de um mês após a última ingestão, é possível que ela desenvolva outro transtorno, originado pela experiência com a substância. A duração dos sintomas pode variar de acordo com fatores como a quantidade, a concentração e o tipo de substância consumida. Além disso, o efeito de uma substância varia conforme o organismo de cada pessoa.

Durante a manifestação dos sintomas do transtorno psicótico induzido, a vida da pessoa pode se tornar um verdadeiro caos. Os delírios e alucinações podem gerar grandes dificuldades nos relacionamentos, no trabalho e até na realização de tarefas cotidianas. Se a pessoa não puder contar com o apoio de familiares, amigos ou profissionais, a situação pode piorar ainda mais.

Alguém vivendo essa condição pode nunca ter apresentado sintomas psicóticos antes. Se a pessoa já tiver histórico de sintomas psicóticos, talvez o diagnóstico mais apropriado seja outro, e um profissional deverá avaliar qual seria a melhor forma de caracterizar os sintomas. Nesse caso, quem já tem esse histórico de sintomas psicóticos tende a manter os sintomas por mais tempo.

Em alguns indivíduos, experiências com substâncias podem levar ao desenvolvimento de esquizofrenia, especialmente entre aqueles com histórico familiar de transtornos psicóticos. Embora o mais comum seja que as pessoas em questão tenham buscado intencionalmente o uso de uma substância.

Em muitas situações, o primeiro episódio psicótico de uma pessoa ocorre devido ao uso de alguma substância. Isso pode ocorrer quando a pessoa procura intencionalmente alterar o seu estado de consciência, ou sem ter essa intenção. O início dos sintomas psicóticos pode variar conforme a substância consumida. Uma dose alta de cocaína, por exemplo, pode desencadear os sintomas em poucos minutos, enquanto um sedativo pode exigir doses elevadas durante vários dias para causar o mesmo efeito.

O tipo de sintoma também varia conforme a substância. No caso do transtorno psicótico induzido, substâncias como cocaína, anfetaminas e maconha podem provocar delírios persecutórios, onde a pessoa sente que está sendo observada, seguida ou em perigo iminente. As anfetaminas, por exemplo, podem induzir alucinações de vermes rastejando sob a pele, levando a pessoa a se coçar até se machucar. Já a maconha pode gerar grande ansiedade ou episódios de despersonalização, como já abordamos em outro vídeo.

Em um estudo recente com pessoas que usaram 5-MeO-DMT ou mais conhecida como a molécula de Deus, 37% delas passaram por experiências negativas, como medo, ansiedade, taquicardia, inquietação e sensação de morte iminente. Como ocorre com outros alucinógenos, o 5-MeO-DMT pode desencadear o transtorno psicótico induzido. Muitas pessoas que consomem essa substância desconhecem esse risco. Quem tem experiências negativas ao consumir essa substância, muitas vezes na companhia de outros, pode ser culpabilizado ou ignorado. Defensores do uso recreativo podem basear a segurança da substância em suas próprias experiências, responsabilizando a pessoa que teve uma experiência ruim por seu "despreparo" ou "falta de resistência".

Quem desenvolve o transtorno psicótico induzido pode acabar buscando atendimento de emergência em hospitais, já que os sintomas, quando no auge, podem ser extremamente incapacitantes. A boa notícia é que, na maioria dos casos, esses sintomas desaparecem poucos dias após a interrupção do consumo da substância. Se outro transtorno se desenvolver a partir disso, tratamentos com psicoterapia e medicamentos são algumas das opções recomendáveis.

Por fim, é importante destacar que distorções na percepção, como as experimentadas durante intoxicação ou abstinência de substâncias como o álcool, podem se assemelhar aos sintomas do transtorno psicótico induzido. A diferença está na capacidade da pessoa de discernir a realidade. Se a pessoa consegue reconhecer suas distorções como efeitos da substância, sem acreditar que são reais, ela não se enquadra no diagnóstico de transtorno psicótico induzido.

Referências: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-5 (American Psychiatric Association, 2013):

Estudo: "Psychotic disorders due to substance use: the role of neurobiology" (Barhumi et al., 2019):