Adictos de drogas injetáveis e infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana

15/04/2025

Adictos de drogas injetáveis e infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana

Por Waleska Teixeira Caiaffa e Francisco Inácio Bastos

            Entre 1980 e fevereiro de 1998, o Brasil registrou 128.821 casos de aids. Desse total, 21% estavam diretamente ligados ao uso de drogas injetáveis (UDI), o que mostra como essa forma de transmissão teve um papel importante na disseminação do HIV no país.

A população de UDI é bastante diversa e está sempre mudando, o que dificulta saber exatamente quantas pessoas fazem parte desse grupo. Novas técnicas, como o método de captura-recaptura e a combinação de diferentes fontes de dados, têm ajudado a entender melhor essa população.

O comportamento e os padrões de uso de drogas entre os UDI variam muito conforme o tempo e o lugar, por isso é fundamental acompanhar esses aspectos de forma contínua. A infecção por HIV e outras doenças transmitidas pelo sangue costuma acontecer cedo entre os UDI, o que exige respostas rápidas, integradas e eficazes. Também é importante prevenir que pessoas migrem para o uso injetável e garantir tratamento adequado para quem tem dependência química.

Quando comparamos com outros países, vemos diferenças marcantes. Nos Estados Unidos, até 1997, foram registrados 641.086 casos de aids em adultos, sendo cerca de 36% ligados ao uso de drogas injetáveis. Já na Austrália, que adotou medidas de prevenção desde 1985, apenas 2,5% dos casos até 1994 estavam relacionados a UDI. Isso mostra como políticas públicas de redução de danos podem ser eficazes.

No Brasil, a prevalência de HIV entre UDI em centros de tratamento varia entre 16% e 74%. Em Santos (SP), por exemplo, chegou a 66% entre usuários recrutados nas ruas. Quando a prevalência de HIV em uma comunidade ultrapassa 10%, o risco de disseminação rápida aumenta bastante se não forem feitas ações preventivas. Entre os UDI que participam de programas de tratamento, a taxa de novas infecções varia de 0 a 14%. Já entre aqueles fora dos programas, pode chegar a 4 novas infecções por 100 pessoas a cada ano.

Entender as características dos UDI e de seus parceiros sexuais é essencial para criar políticas de saúde pública mais eficientes. É necessário investir em vigilância epidemiológica, usar formas de monitoramento que respeitem as realidades culturais locais e aprofundar o conhecimento sobre os fatores de risco.

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) é a principal ferramenta do Brasil para acompanhar os casos de aids. No entanto, ele tem limitações, como a demora entre a infecção pelo HIV e a notificação do caso de aids um intervalo que pode levar até dez anos.

Inquéritos de soroprevalência ajudam a entender a dimensão da epidemia, mas têm dificuldades em mostrar como ela evolui. Já os dados sobre a incidência ou seja, os novos casos são mais úteis nesse sentido. Contudo, o Brasil ainda precisa investir em estudos de longo prazo. Entre as ações mais eficazes estão os programas de redução de danos, que vão muito além da simples troca de seringas. Esses programas oferecem um conjunto de estratégias preventivas, acesso ao tratamento e apoio psicossocial, visando não só reduzir a transmissão do HIV e de outras infecções, mas também melhorar a qualidade de vida dos usuários. Infelizmente, por falta de informação, muitas pessoas ainda veem esses programas de forma limitada, o que atrapalha sua expansão no Brasil.

Blog

Informações sobre prevenção, tratamento e recuperação da dependência química e alcoolismo

Este site usa cookies do Google para fornecer serviços e analisar tráfego.Saiba mais.