Canabinoides sintéticos: drogas de abuso emergentes
06/04/2025

Por Audrei de Oliveira Alves, Bárbara Spaniol, Rafael Linden
A Cannabis sativa, conhecida como maconha, é uma planta que possui efeitos psicoativos e também pode ter usos terapêuticos. No entanto, a busca por substâncias sintéticas que imitassem o principal composto psicoativo da maconha teve como objetivo reduzir os efeitos psicotrópicos da planta, isolando apenas suas propriedades terapêuticas. Essa tentativa, no entanto, não foi totalmente bem-sucedida, e os canabinoides sintéticos surgiram como substâncias de abuso, com sérios impactos na saúde pública.
Esses canabinoides sintéticos fazem parte de um grupo de drogas chamadas "drogas de design", que são modificadas para driblar as leis. Além deles, há outras substâncias criadas de forma sintética, como opióides e alucinógenos, que podem ser até mais potentes que suas versões naturais, tornando o mercado de drogas ilícitas ainda maior. Os canabinoides sintéticos são frequentemente vendidos como "incensos" ou misturas de ervas, com nomes comerciais como K2 e Spice. Esses produtos são geralmente misturados com ervas e vendidos principalmente em países da Ásia, onde o controle sobre o mercado de drogas não é tão rigoroso. Nomes populares desses produtos incluem Spice Silver, Spice Gold e Zombie World. Embora a embalagem muitas vezes diga que não é "apropriado para consumo humano", o uso recreativo se espalhou rapidamente, já que os consumidores buscam efeitos semelhantes aos da maconha. No Brasil, um dos canabinoides sintéticos foi o primeiro a ser proibido.
Um estudo realizado revisou cerca de 70 artigos sobre esse tema, com o objetivo de analisar o fenômeno dos canabinoides sintéticos. A pesquisa indicou que os produtos Spice e K2 contêm uma mistura de ervas exóticas e extratos de plantas aromáticas, e seus efeitos psicoativos vêm dos canabinoides sintéticos que são aplicados sobre essas plantas. Algumas dessas ervas, como o Pedicularis densiflora (conhecida como índio guerreiro) e o Leonotis leonurus (rabo-de-leão), possuem efeitos psicoativos parecidos com os da maconha, mas a principal causa dos efeitos é a aplicação dos canabinoides sintéticos.
Em 2008, o uso do Spice se popularizou na Alemanha, após se descobrir que esses produtos continham um dos canabinoides sintéticos mais conhecidos. Outros canabinoides também foram encontrados nas misturas, levando vários países a impor restrições legais. Em um estudo realizado no Reino Unido, observou-se que a venda desses produtos pela internet estava sendo feita sem nenhum controle rigoroso, o que atraía consumidores que buscavam uma alternativa legal à maconha, sem que a substância fosse detectada em exames de urina.
Desde os anos 1960, diversos compostos sintéticos foram desenvolvidos para imitar os efeitos do principal composto psicoativo da maconha. Alguns desses compostos são até 100 vezes mais potentes que o principal composto psicoativo da maconha, enquanto outros são os mais conhecidos e responsáveis pelos efeitos psicoativos do Spice. Esses compostos atuam nos receptores do corpo de forma semelhante ao principal composto psicoativo da maconha, causando efeitos como relaxamento físico, alterações na percepção, euforia leve e aumento do apetite, que são buscados pelos usuários.
Entretanto, o uso de Spice pode resultar em efeitos adversos graves, como ansiedade, paranoia, convulsões e até perda de consciência. Também pode causar taquicardia (batimento cardíaco acelerado), aumento da pressão arterial, dor no peito e até problemas cardíacos. Casos de emergências médicas relacionadas ao uso do Spice foram relatados em vários estudos, como o de duas mulheres intoxicadas pelo consumo de um tipo de Spice chamado Banana Creme Nuke.
A regulamentação sobre os canabinoides sintéticos tem se intensificado. Em 2009, o Reino Unido incluiu vários canabinoides sintéticos em sua lista de substâncias controladas, e nos Estados Unidos, esses canabinoides também foram classificados como drogas de abuso. No Brasil, o canabinoide sintético foi o primeiro a ser proibido.
Em resumo, a popularização dos canabinoides sintéticos criou uma nova classe de substâncias de abuso, com efeitos psicoativos semelhantes aos da maconha, mas com riscos à saúde que ainda não são totalmente conhecidos e podem ser mais graves. A legislação tem tentado acompanhar o aumento desses produtos, mas a falta de controle rigoroso, especialmente na venda online, e a constante criação de novas versões desses canabinoides apresentam desafios para os reguladores.