O uso abusivo de esteroides anabolizantes como um problema de saúde pública
10/04/2025

Por William Jones Dartora, Krista Minéia Wartchow, Alba Luz Rodríguez Acelas
Os esteroides anabolizantes (EA), derivados sintéticos da testosterona, foram referidos pela primeira vez em 1889 por Brown-Séquard, ao aplicar em si extratos testiculares de animais, observando melhora na força e energia mental. Atualmente, são usados na medicina para tratar patologias como sarcopenia, hipogonadismo, câncer de mama, osteoporose e outras condições relacionadas à deficiência androgênica. No entanto, o uso indiscriminado dessas substâncias, principalmente por jovens em busca de melhora estética e desempenho físico, vem crescendo de forma alarmante.
Esse artigo, baseado em revisão narrativa da literatura, busca refletir sobre os impactos do uso não terapêutico dos EA, apontando os riscos e consequências à saúde. A coleta de dados foi feita nas plataformas Scielo, PubMed, Bireme e Google Acadêmico, utilizando descritores como Esteroides, Imagem Corporal e Anabolizantes.
Estudos revelam que muitos jovens, influenciados por padrões estéticos impostos pela sociedade e pela cultura do “corpo perfeito”, utilizam os EA sem qualquer orientação médica. Em Porto Alegre, cerca de 24,3% dos praticantes de musculação relataram o uso dessas substâncias, sendo que a maioria o fez por conta própria ou por influência de amigos e colegas. Outro estudo em Passo Fundo mostrou que 2,2% de estudantes do ensino fundamental e médio já haviam feito uso de EA.
Os efeitos adversos são numerosos e graves. Entre os homens, destacam-se: atrofia testicular, ginecomastia, infertilidade, acne, hipertensão, infartos e até morte súbita. Nas mulheres, os efeitos incluem engrossamento da voz, aumento do clitóris, alterações menstruais, perda da feminilidade e infertilidade. Ambos os sexos estão sujeitos a alterações hepáticas, cardiovasculares e hormonais significativas. O impacto sobre os jovens é ainda mais preocupante, pois o uso pode afetar o crescimento e desenvolvimento corporal, além de causar distúrbios emocionais e psicológicos.
O uso indiscriminado dos EA também compromete valores esportivos, sendo considerado doping em várias modalidades. O acesso fácil, mesmo com a exigência de prescrição médica no Brasil, é favorecido por falhas na fiscalização, contrabando e venda ilegal. Substâncias como decanoato de nandrolona, estanozolol, oxandrolona e cipionato de testosterona são frequentemente utilizadas de maneira irregular.
Diante disso, o artigo propõe ações mais efetivas de educação em saúde, campanhas de conscientização sobre os riscos do uso indevido, e reforço na fiscalização da venda e circulação dessas substâncias. A distorção da imagem corporal, influenciada por padrões irreais, deve ser combatida com orientação, principalmente voltada ao público jovem.
O uso indevido de esteroides anabolizantes representa um grave problema de saúde pública, com efeitos adversos documentados na literatura, como doenças cardíacas, hepáticas, câncer, infertilidade, entre outros. É urgente intensificar as ações de conscientização, controle e educação em saúde, com campanhas e políticas públicas voltadas à prevenção, especialmente entre os jovens. Além disso, é necessária a realização de mais estudos voltados ao uso estético dessas substâncias, para melhor embasar estratégias de enfrentamento e proteção à saúde da população.