Intervenção e Codependência: Estratégias para Lidar com a Dependência Química e Apoiar os Familiares
06/04/2025

Por Raique Almeida
O que devemos fazer, então? Na verdade, existem algumas fases em que conversamos com o adicto para ajudá-lo a perceber que ele é doente. Esse processo é chamado de conscientização. Quando temos certeza de que alguém é dependente de alguma substância isso não significa que ele queira se tratar. Então, ele passa por uma fase pré-contemplativa, em que ainda não deseja se tratar. Ele precisa primeiro saber que tem uma doença. Após reconhecer que é doente, começa a contemplar a possibilidade de um tratamento. A partir daí, começa a aproximação para buscar um tratamento.
Então, como podemos lidar com isso? Existem pacientes que, de certa forma, já estão conscientes de sua situação, sabem que precisam de tratamento, sabem que estão no fundo do poço, mas ainda assim negam a necessidade de tratamento. Eles acham que vão dar conta sozinhos. Normalmente, são pessoas que possuem muita propriedade, prestígio e dinheiro. Quando falamos de "propriedade", nos referimos à capacidade de argumentação; quando falamos de "prestígio", nos referimos ao respeito e à autoridade que têm sobre os outros, sendo muitas vezes chefes ou pessoas influentes em suas áreas. Como lidar com uma pessoa assim?
Uma técnica que foi trazida para o Brasil por um norte-americano naturalizado brasileiro, Donald Lazo, é a intervenção orientada, uma abordagem que também foi popularizada pelo modelo Minnesota de tratamento. Ele usava uma técnica específica, que envolve psicólogos e assistentes sociais treinados para situações muito específicas, exigindo um treinamento especializado para isso. De forma simplificada, a técnica consiste em treinar a família para abordar o paciente de maneira cuidadosa. É importante que a família não transforme essa abordagem em uma "lavagem de roupa suja" – não é para brigar com o adicto mas para aplicar a técnica corretamente.
Quando todos estão preparados, emocionalmente e psicologicamente, o adicto é colocado na frente de familiares, amigos próximos, chefes e colegas de trabalho, que então expressam sua preocupação. Eles anotam fatos e situações observadas que mostram como o adicto perdeu o controle do uso de substâncias, seja álcool ou drogas. O objetivo é fazer com que ele perceba a gravidade de sua situação. Muitas vezes, ele acaba aceitando o tratamento, porque percebe que ninguém está atacando, mas sim mostrando fatos concretos.
Nesse momento, já deve existir uma vaga garantida em uma clínica especializada no tratamento da dependência química, preferencialmente utilizando o modelo Minnesota. Isso é importante porque, mesmo quando ele aceita que tem a doença, a dependência é traiçoeira. Embora o adicto possa afirmar que irá para o tratamento no dia seguinte, ele pode mudar de ideia à noite, dizendo que o fará no mês seguinte. Essa técnica é usada para criar uma abordagem estruturada e eficaz.
E se ele não quiser se tratar? E se continuar querendo beber e usar drogas, mesmo sabendo que é doente? Como lidar com isso? Nesse caso, o tratamento deve se voltar para os familiares e amigos do adicto, pois existe algo chamado codependência. Assim como existe um piloto e um copiloto, o copiloto vai junto quando o piloto decide derrubar o avião. O copiloto não tem escolha. Da mesma forma, a codependência significa que, se o adicto não quiser mudar, a pessoa codependente acaba indo junto, participando do sofrimento.
Nesse contexto, existe o tratamento específico para os codependentes, que utiliza o modelo Minnesota e os 12 Passos, como no caso dos Alcoólicos Anônimos. Para os familiares, existe o Al-Anon, onde eles aplicam os mesmos 12 Passos, mas com um foco diferente: em vez de admitir que são impotentes perante o álcool, eles admitem sua impotência perante o comportamento do alcoólico. No caso do dependente, ele vai tentar se tratar quando se sentir pronto.
O que acontece frequentemente é que, ao mudarem seus comportamentos, os familiares começam a perceber que não estão ajudando, mas facilitando o uso das substâncias. Eles muitas vezes acreditam que, ao ceder, estão ajudando, mas, na verdade, estão apenas incentivando a dependência. Quando os familiares mudam de postura, o adicto percebe essa mudança de comportamento e, em muitos casos, começa a buscar ajuda, interrompendo a negação e considerando a possibilidade de tratamento.
Portanto, é importante entender que a dependência química e a codependência estão interligadas. A intervenção orientada pode ajudar o adicto a perceber a sua doença e, eventualmente, buscar ajuda. Enquanto isso, os familiares precisam de apoio específico para lidar com a codependência e mudar seus próprios comportamentos, buscando ajuda em grupos como o Al-Anon.
Referências:
Lazo, D. (1993). A Intervenção Orientada e o Tratamento da Dependência Química. São Paulo: Editora Ágora.
Miller, W. R., & Rollnick, S. (2013). Entrevista Motivacional: O Guia Prático. Porto Alegre: Artmed.
Instituto de Dependência Química de Minneapolis. (2006). Modelo Minnesota de Tratamento de Dependência Química. São Paulo: Editora Paulus.
Kurtz, E. (1991). Os 12 Passos: Uma Jornada Espiritual. São Paulo: Editora Vozes.
Vazquez, M. L., & Oliveira, D. M. (2004). Codependência: Relações Destrutivas e a Recuperação. Rio de Janeiro: Editora Record.
Al-Anon Family Groups. (2010). Al-Anon: O Guia de Recuperação para Familiares de Dependentes. São Paulo: Al-Anon Family Group Headquarters, Inc.