Motivações de adictos para o tratamento: percepção de familiares
24/04/2025

Por Aline Cristina Zerwes Ferreira, Fernanda Carolina Capistrano, Edice Bueno de Souza e Letícia de Oliveira Borba
O artigo tem como foco investigar as razões que levam dependentes químicos a buscar tratamento, a partir da perspectiva de seus familiares, o estudo se baseia numa abordagem qualitativa-descritiva, realizada entre 2012 e 2013, com 19 familiares de pacientes em uma unidade de reabilitação para dependência química no Paraná. As entrevistas semiestruturadas foram analisadas com base no Modelo Transteórico de Mudança Comportamental, o que possibilitou a compreensão das motivações dos adictos conforme os estágios de mudança: pré-contemplação, contemplação, ação e manutenção.
Os resultados mostraram que, no estágio de pré-contemplação, os adictos geralmente não reconhecem a necessidade de tratamento e acabam sendo encaminhados por imposições externas, como decisões judiciais, pressão da família ou problemas de saúde decorrentes do uso de substâncias. Nesses casos, a motivação é essencialmente extrínseca, o que compromete o engajamento no tratamento.
No estágio de contemplação, o adicto começa a refletir sobre as consequências do uso abusivo e demonstra uma ambivalência entre continuar usando ou mudar. Embora a influência familiar ainda seja determinante, já há sinais de percepção interna de que algo precisa ser feito, mesmo que a decisão ainda não esteja totalmente madura.
Quando o indivíduo atinge o estágio de ação, há o reconhecimento mais claro da dependência e uma busca ativa por ajuda profissional. A motivação se torna mais intrínseca, e o comprometimento com o tratamento tende a ser mais sólido. Essa é a fase em que os adictos mostram maior envolvimento e capacidade de adesão às intervenções terapêuticas.
Por fim, no estágio de manutenção, os desafios passam a ser relacionados à continuidade da abstinência e à prevenção de recaídas. Muitos adictos se deparam com a dificuldade de manter os progressos alcançados, especialmente quando não há apoio contínuo ou quando acreditam estar "curados". Nessa fase, a participação ativa da família e o acompanhamento profissional constante são fundamentais para a consolidação da recuperação.
O estudo conclui que identificar o estágio motivacional em que o adicto se encontra é essencial para a escolha de estratégias terapêuticas mais eficazes, aumentando as chances de sucesso no tratamento. Também evidencia o papel central da família, não apenas como suporte emocional, mas como agente motivador durante todo o processo de reabilitação. A presença e o envolvimento familiar são apontados como elementos-chave na decisão pela busca de ajuda e na permanência do adicto em tratamento.