Representação Social do Usuário de Drogas na Perspectiva do adicto
26/04/2025

Por Juliana Rízia Félix Melo e Silvana Carneiro Maciel
O artigo publicado na revista Psicologia: Ciência e Profissão, aborda a forma como os próprios adictos em tratamento constroem e compartilham representações sociais sobre o usuário de drogas. A pesquisa foi realizada com trinta homens maiores de dezoito anos, internados em uma instituição psiquiátrica em João Pessoa, Paraíba. Por meio de entrevistas semiabertas e da técnica de associação livre de palavras analisadas com o auxílio do software EVOC, buscou-se compreender como esse grupo percebe a figura do “usuário de drogas” e quais significados atribui a ela.
Os resultados apontam que os próprios adictos reproduzem estereótipos negativos amplamente disseminados na sociedade. Termos como “vagabundo”, “doente”, “mau-caráter” e “sofredor” aparecem com frequência, revelando uma visão estigmatizada e excludente, mesmo entre aqueles que vivenciam diretamente essa realidade. Isso demonstra que o discurso social dominante, influenciado por saberes científicos, jurídicos e médico-psiquiátricos, é internalizado pelos próprios adictos, o que reforça sentimentos de vergonha, culpa e desvalorização pessoal. Essas representações funcionam, muitas vezes, como um obstáculo para o processo de reabilitação, pois reforçam uma identidade negativa que pode afetar a autoestima e a motivação para mudar.
Outro ponto importante levantado pelas autoras é que tais representações não surgem isoladamente, mas são construídas a partir do senso comum e dos discursos institucionais, que moldam a forma como os indivíduos compreendem a si mesmos e aos outros. A visão do adicto como alguém fracassado, perigoso ou incapaz de se recuperar contribui para a exclusão social e dificulta a construção de políticas públicas mais humanizadas e eficazes. Por isso, o estudo defende a necessidade de desconstruir essas representações negativas e promover uma abordagem mais empática e compreensiva, que reconheça o adicto como sujeito de direitos, com potencial de mudança e reinserção social.
Ao trazer à tona a perspectiva de quem vivem em adicção, o artigo contribui para ampliar o debate sobre o estigma em torno do uso de drogas e destaca a importância de escutar esses sujeitos para construir estratégias de cuidado mais adequadas. A pesquisa reforça que a luta contra a dependência não deve ser apenas clínica, mas também simbólica e social, enfrentando os preconceitos que ainda marcam fortemente a trajetória dos adictos.