Compulsão e VÃcio: A Fuga da Angústia e a Busca pela Cura Psicológica
08/04/2025

Por Raique Almeida
O termo vício é frequentemente utilizado, mas, tecnicamente, na psicopatologia, fala-se mais sobre compulsão. A compulsão é uma necessidade impositiva, algo que a pessoa sente que deve fazer, mesmo que não queira ou não tenha controle sobre isso. Um exemplo clássico é o vício em substâncias como o cigarro, onde a necessidade de fumar não é uma escolha consciente, mas sim uma obrigação, como se fosse algo indispensável.
Para quem é adicto, o comportamento se torna uma necessidade vital, semelhante à necessidade de comer ou beber água. A pessoa sente que não pode viver sem aquele comportamento ou substância, e o desejo por aquilo acaba se tornando o foco central de sua vida, sobrepondo-se a outras atividades e responsabilidades cotidianas. O vício, assim, se transforma em uma obsessão, algo sem o qual a vida parece incompleta.
O vício também funciona como um mecanismo de fuga, uma tentativa de preencher um "buraco psicológico". Esse buraco pode ser causado por questões não resolvidas, como traumas, inseguranças ou carências emocionais, e o comportamento viciado surge como uma maneira de aliviar a angústia interna. Esse vazio emocional, muitas vezes comparado a uma "deficiência psicológica", exige constantemente ser preenchido, e o vício oferece uma solução temporária para a dor, ainda que não resolva o problema real.
Quando esse vazio não é "tamponado" pelo vício, a angústia emocional se intensifica, levando a pessoa a buscar novamente o comportamento viciante para aliviar a dor momentaneamente. Contudo, como o vício não aborda a raiz do problema, ele se torna um ciclo repetitivo, um alívio temporário que apenas mascara a verdadeira causa da angústia.
A psicanálise surge como uma abordagem eficaz para o tratamento do vício. Ela visa ajudar a pessoa a entrar em contato com seus buracos psicológicos, oferecendo uma maneira de entender e lidar com as angústias que levam ao comportamento vicioso. A psicanálise fortalece o ego da pessoa, ajudando-a a suportar a dor emocional sem recorrer ao vício como uma fuga. Em vez de "tapar" o vazio com um alívio temporário, a pessoa pode trabalhar para superar a causa subjacente do sofrimento e, assim, deixar para trás a necessidade de usar o vício como válvula de escape.
Referências:
Biblioteca Virtual em Saúde MINISTÉRIO DA SAÚDE
Freud, S. (1917). Luto e Melancolia.
Kernberg, O. (1975). Condições Borderline e Narcisismo Patológico.
Van der Kolk, B. A. (2014). O Corpo Guarda as Marcas: Cérebro, Mente e Corpo na Cura do Trauma.