Por que o Brasil deveria priorizar o tratamento da depressão na alocação dos recursos da Saúde?
18/04/2025

Por Denise Razzouk
Em abril de 2016, o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS) destacaram a importância de investir em saúde mental, com foco especial na depressão, que afeta cerca de 350 milhões de pessoas globalmente. Apesar dos diversos desafios na alocação dos escassos recursos da saúde pública, priorizar os transtornos depressivos nas políticas públicas de saúde no Brasil se justifica por diversos fatores.
A depressão apresenta alta prevalência, morbidade e impacto socioeconômico, sendo uma das principais causas de incapacidade, absenteísmo e presenteísmo no trabalho. No Brasil, afeta entre 20 e 36 milhões de pessoas, o que equivale a 10% dos casos globais. O país lidera a prevalência da doença entre os países em desenvolvimento. Além dos prejuízos à saúde individual, a depressão compromete o desenvolvimento cognitivo e produtivo, impactando negativamente a economia e a coesão social.
Desde os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de 2015, o desenvolvimento das nações passou a se basear em três pilares: cuidado ambiental, qualidade de vida e desenvolvimento humano. Nesse contexto, a saúde mental tem valor intrínseco e estratégico, pois influencia diretamente a qualidade de vida, a produtividade e a equidade social. A Comissão da revista The Lancet reforça que investir em saúde, incluindo a mental, é também investir no crescimento econômico.
Estudos como o de Chisholm et al. (2016) indicam que, para cada dólar investido em tratamento da depressão e ansiedade entre 2016 e 2030, o retorno econômico seria de quatro dólares. A pesquisa considerou intervenções recomendadas pela OMS, como o uso contínuo de antidepressivos e tratamento psicossocial, demonstrando custo-efetividade, mesmo com limitações metodológicas. Estimou-se que, com investimentos anuais modestos, milhões de casos poderiam ser evitados ou tratados, com impactos positivos diretos na produtividade.
O custo de tratamento proposto no Brasil, com base em dados de 2011, seria acessível: cerca de R$5,29 para medicação e R$502,00 por pessoa/ano para casos moderados e graves, comparável ao custo do tratamento do diabetes. No entanto, a cobertura ainda é baixa, e há lacunas significativas na detecção precoce, qualidade da assistência e acesso ao tratamento adequado.
Dessa forma, há argumentos técnicos, econômicos e sociais sólidos para que o Brasil priorize a depressão em sua agenda de saúde pública: trata-se de um transtorno altamente prevalente, com grande impacto negativo sobre o indivíduo, sua família, a produtividade nacional e o desenvolvimento sustentável do país. Além disso, o tratamento é eficaz, acessível e gera retorno econômico, social e humano significativo.